Esta semana, enquanto regressava a casa na minha querida Becas (sim, eu dei nome à minha bicicleta!!!), dei por mim numa reflexão bem curiosa.
E alguém que me corrija se estiver errada!▽



Desde Outubro de 2020 que a bicicleta é o meu meio de transporte diário, faça chuva ou faça sol, esteja calor ou esteja frio!
Foi das melhores decisões que tomei, e não há um único dia em que não me sinta feliz por pedalar!△
É certo que pode ser limitante mas eu diria que ao mesmo tempo se conquista uma nova liberdade, uma nova forma de estar e ver o mundo. E as limitações estão mais na nossa mente do que na realidade em si.
Andar de bicicleta permite-me observar os locais por onde passo com outro detalhe, posso cumprimentar as pessoas, sorrir ou acenar, posso sentir o tempo de uma outra forma. É inevitável que nos sintamos mais conectados com o meio que nos rodeia. É inevitável que todo o nosso corpo esteja em movimento, estático e dinâmico, ao mesmo tempo.
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Pressupostos, porque escrevi eu pressupostos como título deste texto?
Partimos do pressuposto de algo é assim, e será sempre assim, porque as regras assim o ditam. Pressupõe-se que, se existe uma passadeira, ou uma passagem de uma ciclovia, e temos as devidas condições de segurança asseguradas, então avançamos sem medo de que um veículo de 4 rodas (ou 2) nos passe a ferro. Bem sei que há a situação do fulano X que nem olha e se atira para a estrada e do fulano Z que passa a grande velocidade numa passadeira sem se aperceber que o peão já vai a meio do trajeto. E bem sei que é um tema que dá muita conversa, muito debate e, tristemente, muita discussão.
Mas vamos olhar para as situações com o devido distanciamento. Como se estivessemos a ver a situação na tela do cinema.
Coloco aqui a minha experiência, ainda curta, mas suficiente para perceber o quão dispersas e afrivoladas andam as pessoas (muitas delas), atualmente. Tomei consciência de que partimos de um pressuposto errado, e eu também. Mas tal acontece para acautelar a minha própria segurança.
Quando circulo na estrada parto do pressuposto de que alguém (condutor) tem que me dar passagem para eu poder passar, estando eu numa situação de prioridade de circulação. Seja nas ciclovias seja nas passadeiras. Porque não me sinto segura. E esse pressuposto está invertido.
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De bicicleta, a pé, de carro, de mota, de trotinete, ou outro meio de transporte qualquer, o fator comum a eles todos é o ser humano. E para que tudo aconteça de uma forma fluída, sem percalços ou incidentes, sem confrontos… Há algo a ter em consideração. Para circular na estrada, tanto como para vivermos em comunidade é essencial haver civismo, espírito de equipa, entre-ajuda, compaixão, honestidade, serenidade, verdade, resiliência, capacidade de aceitação, paciência. Talvez pudesse juntar mais palavras a esta lista, já longa, mas tão essencial para podermos viver uma vida mais feliz, mais harmoniosa.
Se há dias em que chego a casa feliz pelos sorrisos, pelas conversas que a passagem da bicicleta desperta… Outros são os dias em que chego a casa a dizer “Estou farta de pessoas! Desisto!”. E conto os diversos episódios aos meus pais que me aconteceram num percurso de 3,5Km, e a seguir o melhor é ficar em silêncio, para não alimentar essa revolta. Porque quanto mais deixamos que esse sentimento cresça dentro de nós, mais ele vai ganhando dimensão, e cada vez mais vamos sendo absorvidos por esse sentimento negativo. Desabafa, liberta… E sorri! Ainda há por quem valha a pena sorrir, e ainda há muito pelo qual valha a pena pedalar e sorrir!
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Os anos e as décadas vão passando, e vamos repetindo expressões mas as vivências e as experiências não se repetem. Os contextos mudam, as variáveis vão-se alterando porque a única coisa que é certa é a impermanência da vida!❥
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.”
Luís Vaz de Camões
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